quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

[As facetas da Saudade]


"Às vezes fico a me perguntar: de onde vem essa coisa sofrida chamada saudade? Quem a inventou ? Por que a gente sente isso? Quais os tipos mais comuns desse sentimento?
Tentando ajudar a responder algumas dessas questões, resolvi catalogar os tipos mais conhecidos desse impiedoso sentimento:
O primeiro deles é a Saudade "Tatuagem" - a mais pirrançenta de todas, só sai com técnicas especiais - gruda na pele da vítima de tal maneira que mesmo que esta tenha absoluta certeza de que seus atos, palavras, pensamentos e omissões estejam à disposição de outra pessoa, idéia, causa ou pecado, ela evita se olhar no espelho porque sabe que a imagem que irá refletir ali trará estampado em sua pele o desenho do rosto de alguém que conhece intimamente cada poro do seu corpo.
O segundo é a Saudade "Cigana" ou "Pombajira" – Nômade, festeira e exibida - ao primeiro gole de álcool, sem a menor cerimônia ela se apresenta, puxa a cadeira e senta. Não satisfeita, exibe-se dançando ao som exagerado de melodias românticas, de gosto discutível, porém marcantes. Exala sedução. Cria uma aura de insegurança e ciúme que envolve a todos. Promove a intriga, faz com que sua vítima afaste-se de quem lhe faz companhia. Em seguida, rouba suas horas e sabota sua sensatez. Embriagada, insiste em fazer mil previsões para o que ela chama de "seu futuro próximo". Depois de usar e abusar, virar sua noite e sua vida de cabeça para baixo, ela dá um nó cego nas linhas de suas mãos e desaparece, deixando como lembranças a conta, o vexame e a ressaca.
O terceiro é a Saudade "Perfumada" - Apesar de charmosa, é traiçoeira - felina, ela sente à distância a presença da fragrância que alguém deixou cravada em sua pele e na sua memória. De forma discreta, porém ladina, ela hipnotiza suas vítimas, mexe no roteiro dos seus pensamentos e inverte suas intenções. E mais, altera seu metabolismo fazendo com que seus poros exalem o odor da mistura dos suores que tanto marcou seus encontros secretos. Esse composto cria o DNA aromático de alguém muito especial, que um dia te encheu de razões para hoje ocupar a suíte presidencial de suas lembranças. E se nessa hora alguém tentar se aproximar de você, por melhor que seja o perfume por ele (a) usado (a), seu olfato, agora sob nova direção, dirá tratar-se de uma reles água de cheiro do tempo de Virgulino, o rei do cangaço.
O quarto e, por enquanto, último, é a Saudade "bandida" - já cantada em prosas e versos - é aquela que se impõe marginal, destemida e autoritária. Não respeita nada nem ninguém, ignora regras e normas. "Sequestra" suas vítimas em qualquer lugar, a qualquer hora, preferencialmente à noite, e não negocia resgate. As pessoas que sofrem com esse tipo de saudade vivem acuadas, presas ao seu presente, com medo de serem "assaltadas" em plena luz do dia pelas lembranças de um passado "perigoso", porém repleto de prazer. Mesmo assim, volta e meia o destino trama e faz com que elas dêem de cara com quem tem o poder de libertá-las das algemas desse presente tedioso, e elas não resistem... Uma overdose de adrenalina "enquadra" o medo e elas se entregam de corpo e alma àquela relação supostamente marginal. Portando intenções de grosso calibre, elas mergulham de cabeça no submundo do "crime" para tentar "matar" esse sentimento de alta periculosidade, conhecido nos quatro cantos da cidade pela alcunha de "saudade". No dia seguinte, tomadas por um arrependimento provisório, saem em busca de um "hábeas anima" e se perdem na multidão, tentando esquecer o que parece ser inesquecível".
(Augusto Serra)

Um comentário:

Casa de Ncahino disse...

Bem, falar da SAUDADE é mesmo um grande desafio. Tema para diversos autores e livros na literatura, texto de inúmeros poetas e numerosos cantores e artistas... quem não as sentiu?? seja humanos, ou animais, e porque não dizer até os vegetais? Se tentasse falar sobre ela, diria apenas...
Sentimento que fica.
As vezes como uma coisa gostosa...
Doce lembrança...
Outrora como uma dor...
uma Desesperança...
mas em todas as formas ela é um grande aprendizado...

todos que tem vida...terrena ou não, sentirá.

Vamos então tentando aprender a conviver com ela.

beijos Intermináveis.
Naná Cahino