sábado, 28 de fevereiro de 2009

[Mulheres Possíveis]


'Eu não sirvo de exemplo para nada, mas, se você quer saber se isso é possível, me ofereço como piloto de testes. Sou a Miss Imperfeita, muito prazer. A imperfeita que faz tudo o que precisa fazer, como boa profissional, mãe e mulher que também sou: trabalho todos os dias, ganho minha grana, vou ao supermercado três vezes por semana, decido o cardápio das refeições, levo os filhos no colégio e busco, almoço com eles, estudo com eles, telefono sempre para minha mãe, procuro minhas amigas, namoro, viajo, vou ao cinema, pago minhas contas, respondo a toneladas de e mails, faço revisões no dentista, mamografia, caminho meia hora diariamente, compro flores para casa, providencio os consertos domésticos e ainda faço escova toda semana - e as unhas.
E, entre uma coisa e outra, leio livros. Portanto, sou ocupada, mas não uma workaholic.
Por mais disciplinada e responsável que eu seja, aprendi duas coisinhas que operam milagres.
Primeiro: a dizer NÃO.
Segundo: a não sentir um pingo de culpa por dizer NÃO. Culpa por nada, aliás.
Existe a Coca Zero, o Fome Zero, o Recruta Zero. Pois inclua na sua lista a Culpa Zero.Quando você nasceu, nenhum profeta adentrou a sala da maternidade e lhe apontou o dedo dizendo que a partir daquele momento você seria modelo para os outros.
Seu pai e sua mãe, acredite, não tiveram essa expectativa: tudo o que desejaram é que você não chorasse muito durante as madrugadas e mamasse direitinho.Você não é Nossa Senhora.
Você é, humildemente, uma mulher.
E, se não aprender a delegar, a priorizar e a se divertir, bye-bye vida interessante. Porque vida interessante não é ter a agenda lotada, não é ser sempre politicamente correta, não é topar qualquer projeto por dinheiro, não é atender a todos e criar para si a falsa impressão de ser indispensável. É ter tempo.Tempo para fazer nada. Tempo para fazer tudo. Tempo para dançar sozinha na sala. Tempo para bisbilhotar uma loja de discos. Tempo para sumir dois dias com seu amor. Três dias.Cinco dias! Tempo para uma massagem. Tempo para ver a novela.
Tempo para receber aquela sua amiga que é consultora de produtos de beleza. Tempo para fazer um trabalho voluntário. Tempo para procurar um abajur novo para seu quarto. Tempo para conhecer outras pessoas. Voltar a estudar. Para engravidar. Tempo para escrever um livro que você nem sabe se um dia será editado. Tempo, principalmente, para descobrir que você pode ser perfeitamente organizada e profissional sem deixar de existir.
Porque nossa existência não é contabilizada por um relógio de ponto ou pela quantidade de memorandos virtuais que atolam nossa caixa postal. Existir, a que será que se destina?
Destina-se a ter o tempo a favor, e não contra. A mulher moderna anda muito antiga. Acredita que, se não for super, se não for mega, se não for uma executiva ISO 9000, não será bem avaliada. Está tentando provar não-sei-o-quê para não-sei-quem. Precisa respeitar o mosaico de si mesma, privilegiar cada pedacinho de si. Se o trabalho é um pedação de sua vida, ótimo!
Nada é mais elegante, charmoso e inteligente do que ser independente. Mulher que se sustenta fica muito mais sexy e muito mais livre para ir e vir. Desde que lembre de separar alguns bons momentos da semana para usufruir essa independência, senão é escravidão, a mesma que nos mantinha trancafiadas em casa, espiando a vida pela janela. Desacelerar tem um custo. Talvez seja preciso esquecer a bolsa Prada, o hotel decorado pelo Philippe Starck e o batom da M.A.C. Mas, se você precisa vender a alma ao diabo para ter tudo isso, francamente, está precisando rever seus valores.E descobrir que uma bolsa de palha, uma pousadinha rústica à beira-mar e o rosto lavado (ok, esqueça o rosto lavado) podem ser prazeres cinco estrelas e nos dar uma nova perspectiva sobre o que é, afinal, uma vida interessante'.
(Martha Medeiros)

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

[A elasticidade do Amor]


Considerações sobre o amor:
"Todos sonhamos preencher a vida com amor. Vivemos na expectativa de encontrar a alma gémea e de a disfrutar como nos grandes romances e filmes de amor. No início, só pensamos no outro, ansiamos pelos momentos em que estaremos juntos, sofremos com as ausências, sentimo-nos uma borboleta acabada de sair do casulo da solidão, voando à volta do nosso amor.
Este estado de euforia não pode durar para sempre porque a paixão esgota as nossas energias. É necessário então converter esse entusiasmo em amor, em projectos para o futuro, investir numa relação a dois, numa família…
No início, há a fusão. Depois, com a convivência diária, as diferenças saltam à vista e é necessário fazer alguns ajustamentos para que o casal funcione. Ambos precisam de explorar a personalidade do outro e aproveitar o melhor que há em cada um e estar presente no pior também. Para que a relação perdure no tempo, é preciso cooperação.
O pior é que, passados alguns anos, às vezes, apenas alguns meses, instala-se a rotina. Uma das partes deixa que seja o outro a fazer todos os esforços. Geralmente, há um que se acomoda. Acha que o facto de trazer o ordenado para casa é suficiente para que as coisas continuem a correr. Muitas vezes, passa a ser a outra parte a fazer tudo: além de trabalhar, chega a casa, tem de tratar dos filhos, das roupas, da loiça, das refeições, das limpezas e das arrumações. Por vezes, aos fins de semana, a parte acomodada decide ajudar e aspira e depois fecha-se em si próprio(a) e comporta-se como se ainda vivesse em casa dos pais, quando a mãe fazia tudo. Fica alheio(a) a tudo e sem problemas de consciência, sentado(a), enquanto a outra parte vai limpar a casa de banho, faz o almoço, limpa o pó, arruma a cozinha, põe máquina a lavar e a secar, passa toneladas de roupa a ferro. É como se ambos vivessem num barco em que uma das partes é o capitão e o outro é o subalterno, que faz tudo. Se, ao menos, o capitão, de vez em quando, desse o leme ao outro e trocasse os papéis. Se, ao menos ,o capitão agradecesse e se mostrasse grato por tudo o que o outro faz, dizendo-lho todos os dias, mostrando com pequenos gestos que o que faz é significativo e não tomasse as coisas por garantidas, talvez as coisas melhorassem.
O amor assim não pode subsistir porque há uma desigualdade muito grande no relacionamento. Começam algumas discussões, seguem-se os silêncios, por vezes, o rancor começa a cavar o abismo que há-de separar, o que já foi paixão. A parte que mais se esforça para que as coisas resultem, começa a sentir que não é respeitada, amada, sabe que no fundo está a ser ignorada e que ,mais tarde ou mais cedo, um dia, vai cansar-se de lutar e vai desistir… porque deixou de haver um projecto a dois.
Depois não há nada de pior do que uma das partes, queixar-se, ou até mesmo, zangar-se e o outro ficar calado, como se quisesse simplesmente ignorar a cólera do outro. Talvez pense que se ignorar a ira acabará por passar, mas não funciona assim. Os relacionamentos estáveis duram porque o casal fala. Cada um tem o direito de se queixar e de se enervar, de dizer porque está descontente e depois quando as coisas ficam mais calmas, conversarem sobre o que é relamente importante e descartar os exageros. A verdade é que quem mais se enerva é quem mais ama. Quem mais se queixa é quem mais quer que as coisas resultem. Ignorar tudo isso, é ignorar os esforços e o amor do outro.
Quando as pessoas se amam realmente, conseguem ultrapassar os silêncios, os rancores, as complicações, o cansaço, a rotina, o abismo, mas isso requer esforço de ambas as partes, que de vez em quando, se relembrem do que os fez apaixonar, do projecto que querem para o casal, é preciso empenho e deixar o comodismo enterrado numa caixinha no jardim sem mapa para o poder recuperar…
Quem ama realmente sabe que o amor é como um elástico, às vezes, estica-se demasiado e parece que vai rebentar, mas se deixarmos o elástico livre ele voltará ao normal. A sabedoria está em não deixar partir o elástico…"


Na foto: Meu realejo.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

[Surdez]


"minha voz
não chega aos teus ouvidos
meu silêncio

não toca teus sentidos
sinto muito

mas isso é tudo que sinto"

(Pelos Pêlos - Alice Ruiz - 1984 - Editora Brasiliense - Série Cantadas Literárias - São Paulo - SP)

domingo, 15 de fevereiro de 2009

[A palavra SAUDADE]


"As palavras podem suscitar todas as emoções; pasmo, terror,nostalgia, pesar... As palavras podem desmoralizar uma pessoa até a apatia ou espicaçá-la até o deleite, podem exaltá-la a extremos de experiência espiritual e estética.
As palavras têm um poder assustador. E tudo isso é muita verdade, não acredito haja alguém que duvide. As palavras têm uma força, uma resistência, um poder que suplantam quase tudo que existe no mundo. Passam exércitos, passam impérios, passam repúblicas, mas as palavras não passam. Elas são permanentes, mais firmes do que os granitos dos palácios e dos monumentos.
As palavras de Sócrates, escritas por intermédio de Platão, suplantaram todos os governos gregos e suas obras militares ou civis. Passarão as pirâmides e a esfinge do Egito, mas as palavras do "Livro dos Mortos" não desaparecerão.
Deve ser por isso que nós dispomos, na Língua Portuguesa, de uma palavra que não tem igual no mundo em sentido, em significado, em força, tanto no aspecto denotativo (se isso é possível!) como no conotativo. É a palavra SAUDADE, de origem tão obscura como o fundo dos mares portugueses, tão misteriosa como a virgindade das selvas brasileiras, ou tão cheia de calor como as terras de Angola ou Moçambique, também de linguajar lusitano.
De onde veio realmente o vocábulo saudade? Do latim solitate (soledade, solidão)?
Do árabe saudah? Dos arcaísmos soydade, suydade? Até Antenor Nascentes, que foi nosso melhor estudioso da etimologia, não é convincente na explicação da origem. Influência da palavra saúde, como pode parecer uma analogia fonética? Dificilmente.
Não sendo possível definir a matriz de onde sai esta filha tão grata a todos nós, resta-nos apenas a satisfação e a honra de tê-la em nosso vocabulário, sem o perigo de competição por parte de qualquer língua de dentro ou de fora de nossa família latina. O francês solitude está longe de ter o mesmo significado. Mesmo do esperanto (re)sopiro e rememoro estão longe de alcançar nossa expressividade. São termos que passam a quilômetros de distância da riqueza semântica do que usamos.
E o que é mesmo saudade? Um sentimento que deve existir no coração de toda criatura humana, seja ela de qualquer raça, de qualquer parte do mundo, seja pobre, seja rica. A saudade não escolhe, não discrimina, não se faz de rogada para existir. Ela vem de mansinho ou vem fortemente, chegando quando menos se espera. A saudade é amiga da solidão, companheira inseparável do amor, visita invisível da amizade, às vezes pedaço de paixão, em muitos casos suave perfume de momentos de carinho e ternura.
Realmente, não é fácil definir o sentimento da saudade. E é talvez por isso que ela só exista, como palavra, na Língua Portuguesa, na mística do povo de nossa raça, principalmente no brasileiro, esta maravilhosa mistura de sangue tropical, fruto de três origens: a branca, a negra e a tupi. Saudade é dor que sufoca o coração e alegra a alma.
Saudade é presença do ausente, é lembrança do bem-querer, um doce convívio com a distância, uma alegre e agradável tristeza do ver-não-vendo, do amar sem o objeto do amor..."

domingo, 1 de fevereiro de 2009

[O amor vencerá]


"Não se preocupe: No final de tudo o amor vencerá!
E se ainda não venceu, é porque o final ainda não chegou.
É tempo de reacender chamas,de renovar esperanças, de buscar a essência perdida, esquecer o medo de uma vez por todas, assim, se preparar para viver o amor.
Não o amor mesquinho que quer a posse, não o amor sonhador que imagina apenas, não o amor vazio de sentidos,p aixão, não o amor carne, que se cansa.
Mas o amor que nasce da maturidade, da certeza de ter vivido experiências, de encontrar a alma que se encaixa, pedaço da sua que dispensa ilusões...
Não se preocupe, o amor vencerá!
Esteja pronto, todos os dias, e se for possível, se o amor já existir na sua vida, renove-se diariamente, firme compromissos, o amor que se nutre da esperança, é como essa noite cheia de estrelas, beleza rara que contemplamos, na certeza de que o amanhã será lindo, e por ser amor,c om certeza, será!
(Paulo Roberto Gaefke)

[Medo de perder]


"Você sabe por que o mar é tão grande tão imenso tão poderoso?
É porque teve a humildade de se colocar a alguns centímetros de todos os rios do mundo.
Sabendo receber, tornou-se grande. Se quisesse ser o primeiro, alguns centímetros acima de todos os rios, não seria o mar mas uma ilha.
Toda sua água iria para os outros e ele estaria isolado. E além disso, a perda faz parte, a queda faz parte, a morte faz parte.
É impossível vivermos satisfatoriamente se não aceitarmos a perda, a queda, o erro e a morte.
Precisamos aprender aperder, a cair, a errar e a morrer.
Não é possível ganhar sem saber perder.
Não é possível andar sem saber cair. Não é possível acertar sem saber errar.
Não é possível viver sem saber morrer....
Se você aprender a perder, a cair, a errar, ninguém o controla mais.
Pois o máximo que pode acontecer a você é cair, é errar, e perder e isto você já sabe.
Bem aventurado aquele que já consegue receber com a mesma naturalidade o ganho e a perda, o acerto e o erro, o triunfo e a queda, a vida e a morte".