quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

[A elasticidade do Amor]


Considerações sobre o amor:
"Todos sonhamos preencher a vida com amor. Vivemos na expectativa de encontrar a alma gémea e de a disfrutar como nos grandes romances e filmes de amor. No início, só pensamos no outro, ansiamos pelos momentos em que estaremos juntos, sofremos com as ausências, sentimo-nos uma borboleta acabada de sair do casulo da solidão, voando à volta do nosso amor.
Este estado de euforia não pode durar para sempre porque a paixão esgota as nossas energias. É necessário então converter esse entusiasmo em amor, em projectos para o futuro, investir numa relação a dois, numa família…
No início, há a fusão. Depois, com a convivência diária, as diferenças saltam à vista e é necessário fazer alguns ajustamentos para que o casal funcione. Ambos precisam de explorar a personalidade do outro e aproveitar o melhor que há em cada um e estar presente no pior também. Para que a relação perdure no tempo, é preciso cooperação.
O pior é que, passados alguns anos, às vezes, apenas alguns meses, instala-se a rotina. Uma das partes deixa que seja o outro a fazer todos os esforços. Geralmente, há um que se acomoda. Acha que o facto de trazer o ordenado para casa é suficiente para que as coisas continuem a correr. Muitas vezes, passa a ser a outra parte a fazer tudo: além de trabalhar, chega a casa, tem de tratar dos filhos, das roupas, da loiça, das refeições, das limpezas e das arrumações. Por vezes, aos fins de semana, a parte acomodada decide ajudar e aspira e depois fecha-se em si próprio(a) e comporta-se como se ainda vivesse em casa dos pais, quando a mãe fazia tudo. Fica alheio(a) a tudo e sem problemas de consciência, sentado(a), enquanto a outra parte vai limpar a casa de banho, faz o almoço, limpa o pó, arruma a cozinha, põe máquina a lavar e a secar, passa toneladas de roupa a ferro. É como se ambos vivessem num barco em que uma das partes é o capitão e o outro é o subalterno, que faz tudo. Se, ao menos, o capitão, de vez em quando, desse o leme ao outro e trocasse os papéis. Se, ao menos ,o capitão agradecesse e se mostrasse grato por tudo o que o outro faz, dizendo-lho todos os dias, mostrando com pequenos gestos que o que faz é significativo e não tomasse as coisas por garantidas, talvez as coisas melhorassem.
O amor assim não pode subsistir porque há uma desigualdade muito grande no relacionamento. Começam algumas discussões, seguem-se os silêncios, por vezes, o rancor começa a cavar o abismo que há-de separar, o que já foi paixão. A parte que mais se esforça para que as coisas resultem, começa a sentir que não é respeitada, amada, sabe que no fundo está a ser ignorada e que ,mais tarde ou mais cedo, um dia, vai cansar-se de lutar e vai desistir… porque deixou de haver um projecto a dois.
Depois não há nada de pior do que uma das partes, queixar-se, ou até mesmo, zangar-se e o outro ficar calado, como se quisesse simplesmente ignorar a cólera do outro. Talvez pense que se ignorar a ira acabará por passar, mas não funciona assim. Os relacionamentos estáveis duram porque o casal fala. Cada um tem o direito de se queixar e de se enervar, de dizer porque está descontente e depois quando as coisas ficam mais calmas, conversarem sobre o que é relamente importante e descartar os exageros. A verdade é que quem mais se enerva é quem mais ama. Quem mais se queixa é quem mais quer que as coisas resultem. Ignorar tudo isso, é ignorar os esforços e o amor do outro.
Quando as pessoas se amam realmente, conseguem ultrapassar os silêncios, os rancores, as complicações, o cansaço, a rotina, o abismo, mas isso requer esforço de ambas as partes, que de vez em quando, se relembrem do que os fez apaixonar, do projecto que querem para o casal, é preciso empenho e deixar o comodismo enterrado numa caixinha no jardim sem mapa para o poder recuperar…
Quem ama realmente sabe que o amor é como um elástico, às vezes, estica-se demasiado e parece que vai rebentar, mas se deixarmos o elástico livre ele voltará ao normal. A sabedoria está em não deixar partir o elástico…"


Na foto: Meu realejo.

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