segunda-feira, 29 de junho de 2009

[vou sentar-me um pouco, sem pressas, tomar café e ler um poema...]


.não tenho pressa.
.pressa de quê?
.não têm pressa o sol e a lua: estão certos.
.ter pressa é crer que a gente passa adiante das pernas
.ou que, dando um pulo, salta por cima da sombra.
.não; não sei ter pressa.
.se estendo o braço, chego exatamente aonde o meu braço chega - Nem um centímetro mais longe.
.toco só onde toco, não aonde penso.
.só me posso sentar aonde estou.
.e isto faz rir como todas as verdades absolutamente verdadeiras
.mas o que faz rir a valer é que nós pensamos sempre noutra coisa
.e vivemos vadios da nossa realidade.
.e estamos sempre fora dela porque estamos aqui.

(Alberto Caeiro)

[o fim de uma viagem]


::o fim de uma viagem é apenas o começo de outra.
::é preciso ver o que não foi visto::
::ver outra vez o que se viu já
::ver na Primavera o que se vira no Verão
::ver de dia o que se viu de noite
::com sol onde primeiramente caía chuva
::ver a seara verde
::o fruto maduro
::a pedra que mudou de lugar
::a sombra que aqui não estava.

[José Saramago]

quinta-feira, 18 de junho de 2009

[pausa.reflexão]


::.talvez devesse perder o medo de ter medo e aceitar que sem medo não seria humano…
.não me coloco perguntas sobre o verdadeiro sentido das coisas, questiono-me sobre as minhas atitudes e motivos, sobre o efeito das minhas decisões a marca das minhas palavras nos meus passos…
.talvez devesse parar por momentos e não pensar em função de todas e quaisquer situações imagináveis, não mastigar lentamente as ideias com medo de me engasgar com o resultado das minhas ações e morrer por isso…
.não me interrogo sobre a importância do que tenho e vivo muitas vezes em função de retratos de ontem, saudoso de pessoas, momentos, momentos e pessoas, pessoas de um momento, momentos de uma pessoa, momentos com uma pessoa, momentos meus…
.talvez devesse acreditar apenas no que tenho entre mãos, guardá-lo num abraço, dar-lhe um beijo, amá-lo naquele instante, sem medo, sem pensar que amanhã poderá estar ou desaparecer, sem pensar que já houve momentos em que tanto amei ou fui feliz ou triste.::

[falta.a]


..pq hoje eu sinto falta de tudo..
..do dia..
..das pessoas..
..das risadas..
..dos carinhos..
..do mar..
..de mim..
..de você.
.
.
..sim!
de você!.

[onde está agora? o que me espera lá fora?]


::escondi no olhar um desejo..
escondi no escuro uma vontade oculta..
escondi nas palavras, palavras de prazer..
.
.

escondi em mim, o que ninguém poderia entender..
escondi o rosto com um tímido sorriso..
escondi em mim, a imensa vontade de viver..
resolvi sair de onde um dia me escondi....
.
.
ai ai..
.
.
brisas.. saudades.. vontades.. prazeres..!::

quarta-feira, 17 de junho de 2009

[::intuitiva.mente::]


[pq pensar que sempre existirá somente um caminho a se seguir?
::
::
pode existir, apenas um jeito de se chegar la, mas os caminhos a se seguir dentro de
uma opção são
diversos. variados. complexos. perplexos. incríveis.
vale a pena tentar.
procurar. aprender. odiar. gostar. amar.
::
::
decisões. prazeres ininterruptos. cores e sabores sortidos..
::
::
uma luz.um caminho variável.
completo para o inconstante.
vou para onde quero. mas até onde vou?]

[retrato]


[Num retrato-falado eu fichado,
exposto em diagnóstico
Especialistas analisam e sentenciam: oh não!
Deixa ser como será!
Tudo posto em seu lugar
Então tentar prever serviu pra eu me enganar.
Deixa ser, como será!
Eu já posto em meu lugar
Num continente ao revés,
em preto e branco, em hotéis.
Numa moldura clara e simples sou aquilo que se vê.]

[.winter.]


:: o meu amor é inverno.
é feito de chuva e vento.
ao frio.
é feito de noite com estrelas a brilhar debaixo dos pés...
O meu amor pertence ao outro lado da vida ::
.
.
'Era frio.
Não sei dizer se fazia mais frio do lado de fora da minha blusa ou dentro do meu coração.
Provavelmente competiam.'
(Caio F. Abreu)

terça-feira, 16 de junho de 2009

[Filosofando...]


:: ...naquele passo meio desconfiado dos recém-chegados a algum lugar
:: ...suponhamos ainda que tivesse me distraído nas esquinas desse pensamento (vadio, reconheço, auto referente, narcisista),...
:: ...um gesto, um resto de gesto, quem sabe a nobreza que sobra a um velho manco
:: ...no meio do olhar, uma palavra me vem à mente (...) fico a mastiga-la em voz alta muitas vezes
:: ...amoldando o quieto horror de seus corpos pelas esquinas de vidro
:: E por monstruosa delicadeza, bebo sem espanto algum
:: Esse pensamento quase me salva
:: ...porque são atos e não as palavras que podem salvar
:: ...o mapa que o vento tenta arrancar-me das mãos
:: ...a ponte iluminada... a levantar-se... como se me desse boas vindas
:: ...e a luz que chega por trás não ilumina seu rosto
:: Meu coração bate louco...
:: ...meus olhos se acostumam ao escuro
:: ...que deve ser água, talvez o mar, abraça as casas desse pequeno Marrocos
:: ...o sono também salva"
(Caio F. Abreu)

sexta-feira, 12 de junho de 2009

[Encontro]


:: porque viveu intensamente sua vida
a grama seca ainda chama a atenção de quem passa.
As flores apenas florescem, e fazem isso da melhor maneira que podem.
O lírio branco no vale, que ninguém vê
não precisa explicar-se para ninguém;
vive apenas para a beleza.
Os homens, porém, não podem conviver com o “apenas”.
Se os tomates quiserem ser melões
eles se transformarão em uma farsa.
Muito me surpreende
que tanta gente esteja ocupada em querer ser quem não é;
qual a graça de transformar-se em uma farsa?
Você não precisa fingir que é forte não deve sempre provar que tudo está correndo bem,
não pode se preocupar com o que os outros estão pensando
chore se tiver necessidade
é bom chorar até não sobrar nenhuma lágrima
(pois só então poderá voltar a sorrir) ::
::
Eu quero ser sempre uma pessoa capaz de ver as faces que não são vistas – daqueles que não procuram fama nem glória, que silenciosamente cumprem o papel que lhes é destinado pela vida. Eu quero ser capaz disso, porque as coisas mais importantes da existência, as que nos constroem, jamais mostram suas faces.
(Paulo Coelho)

quinta-feira, 4 de junho de 2009

[Em lugar das mãos, o mundo]


'Às vezes, você perde vários poemas
Porque sente uma frase,
Sente algo murmurando no seu espírito
E não presta atenção
Porque está ocupado com os ruídos da vida. (...)'
(Affonso Romano de Sant'Anna)