terça-feira, 18 de agosto de 2009

[...numa folha velha...]


"Eu queria mandar uma carta cheia de garranchos meus, numa folha velha com uma caneta boa, uma carta pra você guardar ou jogar fora, mas ando tão imediatista, e isso é triste porque sentar no portão de casa numa tarde e receber uma carta é tão bonito - eu acho pelo menos - tampouco poderia te ligar porque algumas coisas ficam realmente melhores no papel - ah quanto romantismo da minha parte.
Ontem eu estava na loja folheando uns livros e peguei esse na mão que me lembrou demais você, lembrei de mim também e duma porrada de gente.
A minha vontade de falar dele pra você foi tão maior do que qualquer orgulho que eu venho enfiando goela abaixo que comecei a rir sozinha.
Não sei explicar direito, mas ler esse livro me lembrou você de uma forma totalmente nova e inesperada, talvez seja o inverno que vem chegando e que eu senti só ontem porque eu fiquei no sol esperando o ônibus e foi quase um abraço - é assim que eu sempre sinto o inverno, durante o dia e não pelas noites, eu posso ficar no sol um dia inteiro de inverno e me sentir abraçada, mesmo que aqui nem seja tão frio.
Não sei, foi como se passem anos desde a ultima vez em que nos falamos. Como quando a gente vai seguindo em frente vivendo outras coisas que quase nem se lembra tanto assim de alguém, e de repente passa por algum lugar, ouve uma musica ou sente algum cheiro, uma dessas coisas que nos remete direto a uma viagem nostálgica e deliciosa de um tempo bom, e pensei, preciso te contar - te escrever.
Na verdade precisava escrever isso pra mais gente, pessoas que eu fui conhecendo e me esquecendo por um motivo ou outro, pessoas que passam pelas mesmas crises que eu, as mesmas angustias, os mesmos conflitos, as mesmas alegrias e loucuras, pessoas que indiretamente me acompanham nessa coisa alucinógena que é viver e tentar ser o que é, e acima de tudo nessa falta de autocompreensão que desconfio agora ser interminável, ainda bem. Pessoas que eu poderia ligar e dizer; eu não te entendo mesmo e nem me entendo também e sabe, achei mais alguém que também não se entende, esse tal cara do livro, nossa você precisa ler.
Ia ser bom dizer isso, mas por enquanto escrever cartas nunca enviadas me basta, afinal de contas de alguma forma foi dito, expurgado."

domingo, 9 de agosto de 2009

[o velho e o mar]

"É uma estupidez não ter esperança!" (é???!!!) pensou.
"Além disso acho q é um pecado perder a esperança. Mas não devo pensar em pecados. Já tenho problemas demais p/ começar a pensar em pecados. Para dizer a verdade, também não compreendo bem o que são pecados... não os compreendo e nem sei bem se acredito neles. Talvez fosse um pecado ter matado o peixe. Suponho que sim, embora a carne fosse para me conservar a vida e para alimentar muita gente. Mas então tudo é pecado!"
"Mas vc não matou o peixe apenas para conservar-se vivo e o vender para alimento", pensou ele. " Matou-o por orgulho e porque é um pescador. Amava o peixe quando estava vivo, afinal ainda o ama morto. Se o ama, com certeza não foi pecado matá-lo. Ou será ainda pior?"
"Além disso", pensou, "tudo mata tudo de uma maneira ou de outra. Pescar mata-me tal como me faz viver. O garoto é que me mantém na vida", pensou."Não devo ter muitas ilusões."
(Ernest Hemingway)

[.verdades absolutas.]


'.amar o perdido
deixa confundido
este pobre coração.
pouco pode o ouvido
contra o sem-sentido
apelo do não.
as coisas tangíveis
tornan-se insensíveis
à palma da mão.
mas as coisas findas
muito mais que lindas
essas ficarão.'