quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Quis ler ainda mais...


"E, no entanto, só quero dizer-lhe que nos enganamos hipocritamente o tempo todo
Mas, engraçado...
Nos enganamos quando pensamos ou quando sentimos?
Ah, meu amor!
Você pensa com o corpo todo,
pensa com os sentidos em turbilhão, pensa cálido como seus desejos.
Eu também, eu sei..
E que há de nós que não saibamos?
Sabemos.
Você de si.
Eu de mim.
Só de pensar, logro conhecer
É que guardo o de fora, guardo descrições do mundo, guardo até o que dizem e escrevem aqueles que perceberam sós o que ainda não percebi por mim.
De pensar, construo
E a mesma destruição vem do contínuo pensar de todos.
Penso com palavras?
As palavras constroem as definições.
As palavras não criam o pensamento, criam a forma de pensar
( a estratégia de pensar, o jogo de pensar...
as palavras criam a razão...
razão não é pensamento , é parte dele...
já que pensamento é tb associar, imaginar, sonhar).
E é assim que tenho sentido: pensando.
Claro, primeiro a sensação por si, como a luz que me arde nos olhos ao sair da caverna.
A percepção,os sentidos. Depois, acostumada às formas.
E sinto então com o pensamento, alimentada pelo pensamento, aniquilada pelo pensamento.
Destruo assim a vontade de amar?
Não,
o desejo não é pensar.
Eu desejo apenas, desejo a partir do sentir, da luz, da dor, do id.
E não há razão que bloqueie, limite ou crie em mim uma paixão.
A razão é um jogo, já disse.
Brinca com os sentimentos,não os cria nem impede de existir.
Uma paixão não retorna, apenas morre/nasce outra nova, outra estranha e boa.
Estranha porque experimento o estranho de fora, não o eu.
Pelo pensamento, vislumbro-me irremediavelmente só.
Presa a um corpo,a um limite,a uma configuração... única, ainda.
Meu tempo, meu jogo, minha razão, meus caminhos, minhas experiências,e lembranças e imagens e decisões e cabelos e braços,olhos, dedos e estômago.
Meu eu.
Cansado e descrente, sem qualquer doutrina ou sabedoria.
Sem verdade, razão, motivo, satisfação ou anseio fiel. Sem misticismo, sem teogonia - "e agora , José?" Sem respostas, cem perguntas (cem mil perguntas e muitas mais!)
Sem ciência, sem consciência e sem santificação.
E a salvação?
Não há.
Nenhuma.
Então por que e , principalmente, (se já tanto caí, cicatrizei, abri feridanovamente) por que é que insisto?
Ora, se já não posso mais acreditar, se nenhuma apologia, se nenhum altar, se palavras ao vento, se nada há em que me deposite ilusoriamente, em busca distraída pelo completo.
Se já sei que não me basto, então por que o outro?
Por que você?
Porque não-eu...
porque imprevisível, porque único mistério sobre a Terra, porque impossibilidade, porque existência experimentada jamais por outro além.
Você porque você.
Qualquer um... ora!
Que merda!
Então, por que não qualquer um?"

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